Técnica que antecipa diagnóstico da dengue é aperfeiçoada

Pesquisa do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia padroniza teste que permite confirmar o diagnóstico clínico da dengue a partir do segundo dia de sintomas, além de revelar o sorotipo do vírus responsável pela infecção.

Confirmar o diagnóstico da dengue ainda no segundo dia de sintomas e detectar qual dos quatro sorotipos do vírus causou a doença. Esses são os objetivos de uma pesquisa que está sendo conduzida no Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Estamos ajustando uma técnica, já publicada, para a realidade do vírus na Bahia e no Brasil”, explica Gubio Soares Campos, coordenador do laboratório.

Atualmente, a confirmação laboratorial da dengue é feita no país por meio de duas técnicas, uma sorológica e outra virológica. A sorologia é o exame mais comum na prática clínica. É utilizado o teste Mac-Elisa e o sangue do paciente só pode ser colhido a partir do sexto dia de sintomas da doença, quando o nível de anticorpos permite sua detecção. O resultado fica disponível em cerca de 48 horas. Contudo, essa técnica não determina qual sorotipo infectou o paciente.

Por sua vez, o diagnóstico por isolamento viral permite essa informação, mas é realizado apenas em alguns laboratórios de referência e indicado principalmente em casos de dengue hemorrágica. Para sua realização, a amostra de sangue deve ser coletada preferencialmente na fase aguda da doença, ou seja, nos cinco primeiros dias de sintomatologia. “Para isolar o vírus em uma cultura de células e obter os resultados, leva-se 21 dias”, pontua Campos.

A técnica que vem sendo aperfeiçoada e padronizada na UFBA desde o começo deste ano utiliza-se da biologia molecular e apresenta resultados em cerca de 24 horas. “Com ela, não é necessário isolar o vírus, cultivar as células”, detalha o pesquisador. Por essa técnica, a amostra de sangue do paciente é processada, o RNA do vírus é extraído e são aplicados dois procedimentos, um que consiste na cópia do RNA (RT-PCR ou transcrição reversa-reação em cadeia da polimerase), e outro (nested-PCR ou reação em cadeia da polimerase) que, usando segmentos de RNA específicos para cada tipo de vírus, detecta qual deles está presente na amostra analisada.“Estamos obtendo bons resultados utilizando essa técnica”, avalia Campos.

Segundo ele, o diagnóstico precoce da dengue é fundamental para a eficiência do tratamento e para evitar a evolução para quadros mais graves da doença. A informação sobre o vírus infectante permite também um acompanhamento diferenciado para cada paciente.

Campos acredita que, no futuro, a técnica pode ser utilizada na rotina do diagnóstico em todo o país, beneficiando toda a população. O Laboratório de Virologia da UFBA recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), porém, um dos maiores entraves para a realização da pesquisa ainda é a escassez de recursos financeiros. “Qualquer parceria seria bem-vinda”, enfatiza ele. O material utilizado na técnica é importado e Campos estima em cerca de 50 reais o custo de cada teste.

Norovírus

Utilizando-se da mesma técnica, a equipe de Campos identificou pela primeira vez o norovírus como causador de um surto de diarréia na Bahia, entre junho e julho de 2006. “Encontramos norovírus do tipo 2, o mesmo que predomina em alguns países europeus e nos Estados Unidos”, explica o pesquisador. Esse foi o segundo surto de diarréia comprovadamente causado pelo norovírus reportado no Brasil neste século. Ao contrário das ocorrências anteriores, que afetaram principalmente crianças, na Bahia, o vírus acometeu em sua maioria jovens adultos.

Os achados foram publicados em artigo na edição de junho do periódico Archives of Virology. Com a descoberta da presença do norovírus no estado, ações de prevenção podem ser intensificadas e novos surtos podem ter seu agente causador descoberto mais rapidamente e com menos custos. Agora, os pesquisadores do laboratório estão empenhados em criar um kit nacional de detecção do norovírus, adaptado à realidade brasileira. “Os kits de que dispomos atualmente são importados e caros”, lembra Campos.

Vacina

Em São Paulo, o Instituto Butantan acelerou as pesquisas de formulação de uma vacina contra os quatro vírus da dengue. Por meio de um acordo de cooperação com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o Butantan adquiriu há cerca de três meses as cepas (linhagens dos virus) necessárias para a produção da vacina. Os testes em humanos devem começar no ano que vem e, confirmada sua eficácia, a estimativa é que em 2010 a população já possa começar a ser imunizada.

O investimento total do projeto deve chegar a R$ 20 milhões. A intenção é que a vacina seja vendida a baixo custo ao Ministério da Saúde e incorporada ao calendário oficial de vacinação.

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