Casa de madeira é alternativa para moradia social e preservação ambiental

A falta de habitação é um dos grandes problemas sociais do Brasil, sendo que o déficit para a população de baixa renda é estimado em 6,6 milhões de moradias. Uma das dificuldades para a erradicação desse problema é o custo elevado das obras da construção civil, mas a ampliação do uso da madeira de reflorestamento indica uma alternativa para produção de moradias de interesse social.

A falta de habitação é um dos grandes problemas sociais do Brasil, sendo que o déficit para a população de baixa renda é estimado em 6,6 milhões de moradias. Uma das dificuldades para a erradicação desse problema é o custo elevado das obras da construção civil, mas a ampliação do uso da madeira de reflorestamento indica uma alternativa para produção de moradias de interesse social. Por isso, o Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira (GIEM), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está buscando otimizar a industrialização dessas casas com o objetivo de atender famílias que recebem de quatro a dez salários mínimos.

Uma casa modelo de 40m² – com possibilidade de ampliação – está disponível há mais de um ano na universidade e já recebeu diversos visitantes entre pesquisadores, governantes e curiosos. Segundo o professor Carlos Alberto Szücus, coordenador do GIEM, o projeto arquitetônico foi feito com base em pesquisas para prover melhor conforto do que o da realidade daquele público-alvo: “A aceitação da casa tem sido interessante, principalmente, em relação a sua estética e conforto térmico”, afirma.

No momento, o GIEM vislumbra a produção em grande quantidade para atender os conjuntos habitacionais. “Na primeira fase do projeto, a produção das casas ainda era muito artesanal e levava um mês para se construir cada casa, o que deveria ser feito em uma semana”, conta Szücus. Na Alemanha, segundo ele, é montada uma casa de madeira por dia no canteiro de obra. No Brasil, falta investimento em equipamentos automatizados para agilizar a produção em fábrica e, conseqüentemente, diminuir o custo da casa.

Para aprimorar o processo de industrialização das casas, o GIEM trabalha na construção de modelos de tamanho real, em seu laboratório na UFSC, focando a produção de um sistema de ligação e fixação de paredes prontas e a verificação do comportamento destas em relação ao vento. Atualmente, a ligação das paredes é feita no momento da montagem no canteiro de obras, o que leva tempo e até gera perda de material para se conseguir o encaixe e ajuste corretos. O GIEM empenha-se para que este processo seja feito na fábrica, antes das paredes serem levadas ao canteiro de obra, aumentando o grau de industrialização. A idéia é que o aprimoramento da fixação facilite a montagem, seja eficiente e, com isso, reduza gastos com o trabalho na obra.

“Hoje, as paredes de madeira com portas e janelas são produzidas em módulos e levadas prontas para as obras, onde são montadas numa base. A composição dos módulos, com base em projeto arquitetônico pré-estabelecido, é feita na hora, assim como o acabamento dos painéis de madeira”, diz Szücus. “As sugestões do GIEM não implicam em grandes investimentos, mas sim na melhoria da produção em larga escala, através da adaptação das máquinas já existentes na empresa Batistella”, completa, referindo-se à parceira do projeto, que investiu R$ 60 mil reais e planta a árvore pinus – da qual extrai madeira para as casas populares – em 70 mil hectares no Paraná e em Santa Catarina.

As casas de madeira poderão ser oferecidas com um custo competitivo em relação às produzidas pelo sistema convencional em alvenaria. No Canadá, por exemplo, 90% das casas são de madeira. O governo alemão incentiva, através da redução de impostos, a construção dessas casas, que também colaboram para a redução de gastos com energia elétrica com calefação durante o inverno. “No Brasil, apesar de diversas barreiras e preconceitos, em regiões que já utilizam a madeira em trabalhos variados, como é o caso de Santa Catarina, é mais fácil introduzir a idéia, que poderia ser adotada como estratégia do governo”, defende Szücus.

Segundo ele, ainda não há demanda e conhecimento devidamente disseminado sobre essas casas, mas num futuro próximo, a produção será necessária no país. “A utilização de madeiras de floresta plantada já é foco do setor de agronegócio, pois o Brasil tem um clima favorável e extensão territorial propicia à produção deste material de fonte renovável em larga escala, servindo inclusive para diminuir a exploração da mata nativa”, diz. “As madeiras de reflorestamento também podem ser tratadas com produtos químicos para ficarem imunes à proliferação de fungos e bactérias, passando a ter até 50 anos de vida útil sem apodrecimento”, continua. O projeto já recebeu R$ 140 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), através do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), além dos investimentos da empresa Battistella.

Mantendo a mata nativa

As casas de madeira, além de serem alternativa para moradia social, também podem colaborar com a preservação ambiental. “O consumo dos bens naturais, desde que plantados em áreas corretas, sem causar danos ambientais, colabora com a conservação das florestas naturais. Mas para isso, a origem do reflorestamento deve ser clara, as árvores não podem ser retiradas de floresta nativa”, diz Marcelo Kammers, analista ambiental do IBAMA. “Muitas vezes, a recuperação é camuflada, as empresas apenas plantam para cortar, sem pensar na criação de um ecossistema”.

Na região explorada pela parceira da UFSC, os projetos de reflorestamento para produção de bens de consumo são fiscalizados pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA), órgão ligado ao governo de Santa Catarina. Quando o reflorestamento é feito em áreas aprovadas pela FATMA, é socialmente bem visto, afinal gera empregos, colabora com a produção de bens de consumo e conseqüentemente com a economia da região.

“Porém, fazer da forma correta custa caro, os impostos são altos, é preciso que a região a ser reflorestada, dependendo do tamanho, tenha o licenciamento concedido pela FATMA, o processo é mais demorado, exige diversos documentos. Por isso, muitas empresas agem de maneira incorreta”, alerta Kammers. As pesquisas que envolvem a utilização de madeiras de reflorestamento, portanto, devem considerar a origem e legalidade das madeiras, qual a área utilizada para o reflorestamento e assim revestir-se de importância social, econômica e também ambiental.

Leia também:

Número de favelas cresce no mundo
Experiências caseiras
No Brasil moradia é vista como negócio