Tuca comemora 40 anos de Morte e Vida Severina

“Esta cova grande em que estás com palmos medida/É a conta menor que tiraste em vida/É de bom tamanho nem largo nem fundo/É a parte que te cabe neste latifúndio”. Este é um dos trechos mais famosos do poema Funeral de um lavrador, da peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Em homenagem aos 40 anos de estréia dessa peça, o Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), faz uma apresentação especial gratuita do espetáculo, no dia 22 de setembro. As comemorações também contam com exposições, vídeos e uma instalação virtual.

“Esta cova grande em que estás com palmos medida/É a conta menor que tiraste em vida/É de bom tamanho nem largo nem fundo/É a parte que te cabe neste latifúndio”. Este é um dos trechos mais famosos do poema Funeral de um lavrador, da peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Em homenagem aos 40 anos de estréia dessa peça, o Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), faz uma apresentação especial gratuita do espetáculo, no dia 22 de setembro. As comemorações também contam com exposições, vídeos e uma instalação virtual.

Musicada pelo cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, a premiada peça foi encenada pela primeira vez em 11 de setembro de 1965, no próprio Tuca. Foi um enorme sucesso na época, o público aplaudiu de pé a história da viagem do retirante nordestino Severino que abandona o sertão em direção ao Recife, em busca de melhores condições de vida. A estréia marcou um efervescente momento histórico, político e cultural do país, no qual a arte foi usada como instrumento de manifestação política contra a repressão iniciada no golpe militar do ano anterior.

“A peça fez com que o estudante universitário acordasse para a sua participação cultural e encontrasse no teatro um veículo de comunicação veemente e interativo. Ele é tão persuasivo que continua até hoje”, diz a professora Lucrecia D’Alessio Ferrara, da PUC-SP, doutora em Literatura, que participou da montagem da peça na época. Segundo ela, Morte e Vida Severina despertou o estudante universitário para a poesia de João Cabral de Melo Neto, que passou a fazer parte do currículo do ensino médio e dos vestibulares.

Na época, para colocar o projeto em prática, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC-SP convidou o psiquiatra e escritor Roberto Freire (diretor-geral do grupo), Silnei Siqueira (diretor de atores) e José Armando Ferrara (cenógrafo). O espetáculo só foi possível, porque contou com o apoio financeiro de muitos estudantes e artistas. Chico Buarque, na época cursando a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, chegou a vender seu fusca velho, apelidado de Clóvis, para investir no espetáculo. Roberto Freire rifou a linha telefônica e o artista plástico Aldemir Martins doou seus quadros. Foi até criado um diploma simbólico, pelo publicitário Carlito Maia, chamado “Ordem do Tucano”, para distinguir aqueles que colaboravam. Ao final das apresentações, havia “canjas musicais” com grandes nomes como Elis Regina, Dorival Caymmi e Geraldo Vandré.

A peça foi apresentada em várias regiões do país. A repercussão junto ao público e à crítica foi tão grande que o espetáculo viajou para a França, onde recebeu o prêmio do 4º Festival Universitário em Nancy, em maio de 1966. Morte e Vida Severina excursionou também pelas cidades de Lisboa, Coimbra e Porto, em Portugal. Na volta da turnê internacional, o grupo teatral foi recebido no aeroporto de Congonhas por muitos estudantes e seguiu em carro aberto para o Tuca.

“Com o endurecimento do regime militar, aos poucos o grupo acabou se dispersando. O teatro universitário não deslanchou para a sociedade brasileira, os movimentos de valorização à cultura popular foram dissipados pela ditadura e desde então a PUC-SP não teve um projeto cultural daquela envergadura”, diz o professor de teologia e jornalismo dessa universidade, Jorge Cláudio Ribeiro, responsável pela pesquisa e elaboração do site em homenagem aos 40 anos.