A cada ano as mulheres vão se firmando na área científica. No último dia 2, mais um reconhecimento foi dado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a empresa de cosméticos L’Oreal com a divulgação do Prêmio para mulheres na Ciência. Entre as premiadas mais uma brasileira. Andrea Montesso, pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), receberá uma bolsa de estudos a ser desenvolvida na Inglaterra a partir de junho deste ano, na qual pretende identificar a origem, localização e propriedades das células-tronco presentes na parte interna dos dentes. Montesso foi selecionada entre 60 outras propostas devido ao valor científico e utilidade da pesquisa.
Ela vai estudar o potencial dessas células-tronco para formação de outros tecidos como o tecido ósseo, e para isso, as células da polpa dental serão comparadas com células-tronco já conhecidas como as da medula óssea e do cordão umbilical. A pesquisa será desenvolvida por sete meses, no King’s College, em Londres, sob orientação do cientista Paul Sharpe, referência mundial na área de bioengenharia dental. O valor total da pesquisa é de 45 mil libras (em torno de R$180 mil). Após o intercâmbio, a cientista volta ao Brasil para dar continuidade ao trabalho, criando na USP uma nova linha de pesquisa na utilização de células-tronco de origem dental para o tratamento das deformidades craniomaxilofaciais – causadas por acidentes, remoção de lesões extensas ou mesmo de origem genética. Atualmente, o tratamento dessas condições envolve cirurgias e enxertos ósseos do próprio paciente ou de fonte externa. Nos Estados Unidos, essas células da polpa dental já estão em estudo para tratamento de outras condições como, por exemplo, o mal de Parkinson.
Camundongos com estruturas celulares geneticamente modificadas e marcadas com coloração diferente serão utilizados na pesquisa. Quando cruzados, a pesquisadora pretende identificar a origem das características da polpa dos dentes dos filhotes através dessa diferença de cor. As células da polpa dental serão então separadas, clonadas e induzidas a formarem outras _células de osso, cartilagem, adipócitos (células que armazenam gordura) e células neurais. A pesquisadora espera identificar de onde as células vêm, onde se localizam no interior desse tecido e também qual é a capacidade de formação de diferentes tecidos que elas possuem. Isso tornará mais fácil isolar e trabalhar com as células-tronco. As limitações do estudo são as mesmas de outras pesquisas que trabalham com células-tronco adultas uma vez que essas são encontradas em quantidade restrita, difíceis de manter em cultura e seu potencial de diferenciação ainda é desconhecido.
Contribuição brasileira O júri do Prêmio da Unesco/L’Oreal é formado por 15 pesquisadores que recebem indicações de cientistas de todo o mundo e selecionam 15 pesquisadoras iniciantes (com menos de 35 anos) – categoria da vencedora deste ano – e cinco cientistas que se destacam na contribuição para sua área do conhecimento. Andrea Montesso é a quinta brasileira premiada, desde o início do evento, em 1998. No ano passado, foi a vez da física Bellita Koiller, a geneticista Mayana Zatz recebeu o prêmio em 2001 e a bioquímica Lucia Mendonça Previato, em 2004. Em 2005, a médica Michelle Lucinda de Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi reconhecida na categoria de jovens cientistas.
Este ano o prêmio envolveu a área biológica e a cientista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP esteve no júri. Em anos anteriores, quando as ciências exatas estavam em pauta, o país foi representado no júri pela doutora em física Márcia Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que fala da necessidade de se ensinar a ciência de forma mais interessante. “É importante acabar com os estereótipos de que as cientistas são nerds horrorosas, afinal, somos pessoas normais. Se o ensino de ciências se voltar para a sociedade irá continuar atraindo meninos, mas mais intensamente meninas, que tem uma visão de inserção social forte”, sugere.
Em 2005, mais de 47% das bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foram destinadas a mulheres, que receberam quase R$ 240 milhões, enquanto os pesquisadores homens alcançaram a soma de mais de 300 milhões de reais em investimento. “O investimento em educação e divulgação é fundamental para que as mulheres cheguem à universidade, possam se dedicar à pós-graduação e, além disso, sejam informadas da possibilidade da carreira acadêmica que envolve a pesquisa”, finaliza Andrea Montesso.
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Edição da ComCiência sobre mulheres na ciência