O Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara, no interior de São Paulo, começou a utilizar um novo aparelho que determina a maioria dos elementos da tabela periódica de diferentes amostras. Esse é o primeiro equipamento de espectrometria de absorção atômica de alta resolução e com fonte contínua que passa a ser usado nas Américas. Existe uma unidade do equipamento operando no Japão e algumas na Europa.
Com este aparelho, é possível determinar elementos tóxicos ou aqueles essenciais à saúde em água, sangue, plantas, alimentos, etc. As análises também poderão ser aplicadas no controle de qualidade de produtos, como metais e petróleo e na determinação de poluentes no meio ambiente. “É possível analisar qualquer tipo de amostra, de rocha lunar até cabelo, desde que o foco seja determinar elementos da tabela periódica”, conta José Anchieta, do Departamento de Química Analítica do IQ. Porém, todas as amostras precisam estar naquilo que os químicos chamam de “solução”, ou seja, no estado líquido, para serem analisadas.
“Podemos determinar cada vez menos de alguma amostra”, enfatiza Anchieta sobre o diferencial deste espectrômetro em relação aos equipamentos mais antigos. Com ele, os pesquisadores poderão analisar elementos em quantidades bem mais baixas, ou seja, em concentrações mínimas, já que a sensibilidade do aparelho é bem maior e o detector é de alta resolução. Além disso, o equipamento utiliza apenas um único tipo de lâmpada (chamada de “arco curto de xenônio”), que emite todos os comprimentos de onda responsáveis por determinar os elementos da tabela periódica. Na técnica de absorção atômica convencional, com equipamentos mais antigos, era necessário utilizar lâmpadas específicas, dependendo do elemento que iria ser analisado.
O aparelho utiliza as propriedades de absorção de luz dos átomos para medir a sua concentração em uma solução. Esse procedimento acontece da seguinte forma: a amostra em solução é aspirada por um dispositivo e se transforma em aerossol (líquido disperso em gás) que, com a ajuda de um gás, é levado para o interior de um queimador. Na medida em que o aerossol entra em contato com a chama, os átomos da amostra passam para o seu estado fundamental. Sobre esses átomos é incidido um feixe de luz gerado por uma lâmpada de xenônio que gera um sinal de absorção. Esse sinal é medido e é proporcional à quantidade de átomos presentes na amostra.
Anchieta, juntamente com Joaquim Nóbrega, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e com Ana Rita Nogueira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Sudeste de São Carlos, encaminharam projeto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a compra do equipamento, produzido por uma empresa alemã. O equipamento custou cerca de US$ 50 mil.
Para Nogueira, o equipamento ampliará a confiabilidade dos resultados e a capacidade de detecção de elementos presentes em baixas concentrações. “Participamos do projeto como colaboradores e pretendemos avaliar o equipamento em pesquisas relacionadas à determinação de elementos em solos e plantas. Serão desenvolvidas novas alternativas para determinações importantes do ponto de vista de nutrição animal e vegetal, assim como maior controle ambiental, a partir de contaminantes em solos e águas”, explica a pesquisadora.
“A nossa equipe está sendo pioneira, porque estamos trabalhando com o equipamento mais moderno do mundo. O nosso grupo ganhará projeção e será possível ampliar as aplicações e propor novos métodos em química analítica”, diz Anchieta. Ele acredita que nos próximos 12 meses, o país contará com mais dois ou três equipamentos como este. O México também já adquiriu o equipamento, mas ainda não começou a operá-lo.