Zona rural ocupa espaço significativo e torna-se multifuncional

Apesar da região de Campinas ser conhecida por seu desenvolvimento no setor tecnológico, a zona rural ocupa um espaço significativo na economia e na distribuição espacial do município, segundo a socióloga do Núcleo de Estudos da População (NEPO) da Unicamp, Luzia Conejo Pinto.

Os agricultores da região de Campinas receberão R$ 525 mil do governo do Estado de São Paulo para o desenvolvimento de atividades no campo. A verba foi aprovada em julho e liberada a partir de agosto através do Programa SAI (Sistema Agroindustrial Integrado) e será utilizada para atividades de assistência técnica, cursos, seminários e orientação para produtores rurais. Apesar da cidade ser conhecida por seu desenvolvimento no setor tecnológico, a zona rural ocupa um espaço significativo na economia e na distribuição espacial do município, segundo a socióloga do Núcleo de Estudos da População (NEPO) da Unicamp, Luzia Conejo Pinto.

A pesquisadora fez um levantamento sóciodemográfico da zona rural da cidade e detectou transformações significativas nos últimos 20 anos. “Houve um rearranjo tanto econômico, quanto populacional da zona rural em diversos lugares no Brasil, e Campinas acompanha essa tendência”, diz. O modelo de desenvolvimento do país que gerou crescimento das cidades e o conseqüente êxodo do campo retiraram parte da importância econômica da zona rural e houve diminuição da população, tanto que no Censo de 2000, Campinas possuía 953.218 pessoas vivendo na cidade, o que representava 98,33% da população total contra 16.178, equivalente a 1,67%, de pessoas na zona rural. “Apesar dessa diferença parecer gritante, precisamos entendê-la no contexto: Houve perda de população que de 1940 a 2000 reduziu-se a metade, mas nesse mesmo período, a população urbana apresentou crescimento constante e muito alto. A população rural de 2000 é perfeitamente compatível com as situações rurais, seja por volume como por densidade demográfica”, diz.

Para compreender como ocorreram as transformações na zona rural, a pesquisadora optou por uma abordagem integrada do município e detectou que grande parte das pessoas que trabalha na zona rural reside nos trechos urbanos. “Atualmente, a integração entre as duas áreas é muito maior do que no passado”, diz Luzia.

Além da diminuição populacional, há significativas mudanças na economia da área rural de Campinas. “A agropecuária deixou de ser a única atividade econômica e abriu espaço para uma zona rural multisetorial marcada pela presença de serviços”, diz Luzia. A agropecuária representa 30% das atividades e o espaço rural adquiriu outras funções como turismo, preservação ambiental e entretenimento. “Muitas pessoas estão trabalhando em restaurantes e hotéis-fazenda”, afirma. Para Luzia, o campo está desenvolvendo atividades atreladas à dinâmica da cidade.

A forma de organização familiar na zona rural também segue essa dinâmica, o que torna comum as famílias compostas por pessoas que trabalham em diferentes setores. “São freqüentes os casos de pessoas que trabalham na cidade, mas residem no campo porque os demais membros da família trabalham na zona rural”, diz Luzia.

A pesquisadora detectou ainda que a escolaridade na zona rural continua baixa. “Houve avanços, principalmente nos anos 90, mas o índice continua baixo”, afirma. “O mesmo vale para a renda do trabalhador do campo: melhorou, mas ainda é baixa”, completa.

Houve melhora significativa, segundo o levantamento de Luzia, nas condições de vida e salubridade principalmente na canalização de água nos domicílios, na universalização da energia elétrica e na conseqüente aquisição de bens eletroeletrônicos como geladeira e televisão.

A zona rural de Campinas revelou-se heterogênea com seis grandes áreas, cada uma com suas peculiaridades, mas algumas características são comuns a todas: a presença de atividades produtivas agrícolas e não agrícolas.