Brasil começa a desenvolver metodologia para seguros contra inundações

Pesquisadores da USP de São Carlos estão desenvolvendo uma metodologia para a implantação de um modelo de seguro contra inundações em bacias urbanas, que ainda não existe no Brasil. A pesquisa irá investigar a forma como se comporta a bacia e reunirá informações hidrológicas, hidráulicas, geográficas e topográficas do local, para saber qual o risco e custo dos seguros para áreas atingidas por enchentes.

É prática comum fazer seguro de casa, carro e vida no país. Pesquisadores do Núcleo Integrado de Bacias Hidrográficas (NIBH) da Universidade de São Paulo (USP), no campus de São Carlos, estão desenvolvendo uma metodologia para a implantação de um modelo de seguro contra inundações em bacias urbanas, que ainda não existe por aqui. Este tipo de seguro já é feito na Europa: a maior resseguradora (empresa que assume o risco de outras seguradoras) do mundo, localizada na Alemanha, cobre não apenas danos causados por enchentes, mas por outros desastres naturais em vários países.

A pesquisa brasileira está sendo desenvolvida como parte do doutorado da engenheira civil Melissa Graciosa, mas a idéia já havia tomado forma no mestrado do economista Julian Righeto, também do NIBH, que analisou a viabilidade econômica da implantação de seguros em áreas de enchente. Apesar das grandes catástrofes envolvendo enchentes não acontecerem no Brasil, elas são recorrentes, principalmente nos verões, e o prejuízo anual do país é de R$1 bilhão.

Graciosa apresentou neste mês seu estudo na Jornada Iberoamericana sobre Inundações e Desastres Naturais, promovida pela Rede Iberoamericana para o Monitoramento e Prognóstico de Fenômenos Hidrometeorológicos (Prohimed), na Guatemala. No evento, participam pesquisadores da América Latina e Espanha. Esta rede, com o apoio da Organização Meteorológica Mundial, uma agência especial da Organizações das Nações Unidas, tem o propósito de fazer uma avaliação integrada de fortes chuvas e inundações em cada país, combinado com o conhecimento científico de meteorologia e hidrologia.

Os seguros contra inundações estão inseridos na gestão de riscos de desastres naturais, que é caracterizada por três fases: prevenção, ações de socorro e recuperação. O seguro hidrológico vem para viabilizar financeiramente a etapa de recuperação. “No Brasil, não temos dinheiro para a recuperação depois dos desastres”, diz a engenheira. “As seguradoras de carro têm estatísticas, sabem quantos automóveis quebram, quantos são roubados, ou seja, têm conhecimento do risco e do custo”, afirma Graciosa, que está desenvolvendo uma metodologia para descobrir o risco e o custo dos seguros para áreas atingidas por enchentes. Um dos pontos analisados pela pesquisadora são as curvas de dano. Ou seja, se o rio sobe um metro, o prejuízo será de quanto?

Sua pesquisa investigará a forma como se comporta a bacia, reunirá informações hidrológicas, hidráulicas, geográficas e topográficas do local, analisará a relação entre o volume e profundidade de inundação e quantificará o número de pessoas atingidas, a fim de descobrir o número de possíveis segurados. As análises nas quais se baseiam esse trabalho são feitas no Córrego do Gregório, região de comércio atingida constantemente por enchentes no centro da cidade de São Carlos. A maior dificuldade é que não existe um grande histórico de vazões, ou seja, dos níveis que o rio atingiu. Graciosa conta que os dados disponíveis são a partir de 2004, e por isso, sua pesquisa utilizará também dados do comportamento de outros rios.

“Para que uma seguradora possa entrar no mercado de seguros contra enchentes, são necessários vários dados que permitam um investimento com uma margem segura de arrecadação através de um prêmio ótimo determinado por meio de simulações do local, para que o investimento seja viável”, analisa Righeto que, em sua pesquisa também fez uma avaliação da percepção dos comerciantes que ocupam a região do córrego do Gregório sobre a problemática das enchentes. Ele fez uma análise em 300 lojas e concluiu que todos os comerciantes têm interesse por um seguro desse tipo, já que as obras contra enchentes são inúteis, porque sempre que chove forte, seus estabelecimentos são afetados. Righeto estudou ainda quanto os comerciantes estariam dispostos a pagar pelo seguro. “Varia de acordo com o tamanho do estabelecimento. De R$ 50 a R$ 100, dependendo da intensidade da enchente, seria um prêmio ótimo de acordo com o modelo de seguro contra enchentes que desenvolvi em meu mestrado”.

Os seguros contra enchentes, ao contrário de outros, depende do local em que vão ocorrer as inundações. “A idéia, com certeza, é muito recente. Ainda não existe nenhum seguro desse tipo no mercado brasileiro, pois o trabalho é muito extenso e, para se realizar na prática, há a necessidade de um estudo profundo de cada região que se pretende aplicar”, conclui o economista.