Conseguir usar a água salobra em criações e culturas vegetais seria uma solução importante para muitas regiões do semi-árido brasileiro. Nesses lugares há ocorrência de águas subterrâneas salobras. A hidroponia, a cultura de microalgas e a criação de tilápias são aplicações que alguns cientistas estão encontrando para esse líquido. O engenheiro agrônomo Tales Miler Soares, da Esalq-USP, em Piracicaba (SP), é um dos que se debruçam sobre esse tema.
Soares e sua equipe verificam condições para o uso da água salobra na hidroponia. Ele apostou que nesse tipo de cultura, que utiliza meio aquoso no lugar da terra, as plantas iriam tolerar uma maior salinidade do que se estivessem no solo. Os resultados mostraram que ele estava correto. Além da estrutura experimental desenvolvida em Piracicaba, outras duas estão sendo finalizadas com resultados semelhantes, uma em Cruz das Almas-BA (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e outra em Ibimirim-PE (Universidade Federal Rural de Pernambuco).
Numa próxima etapa, as pesquisas devem avaliar o desempenho dessas estruturas em regiões do semi-árido. Com isso, serão estudados e antecipados os problemas que uma cultura hidropônica enfrentaria nessas áreas e os experimentos seriam condizentes com o tipo e com a disponibilidade de água salobra nelas encontrado. Além disso, seria estudado um melhor aproveitamento da solução nutritiva ‘envelhecida’ e salinizada de descarte dos cultivos hidropônicos. “No Brasil, alternativas como o emprego do rejeito em tanques de criação de tilápias e de camarão vem sendo estudadas nos últimos anos.”diz Soares “Por outro lado, em muitas comunidades, tem-se testemunhado o descarte do rejeito no meio-ambiente, sem qualquer critério técnico para essa destinação”, lamenta o pesquisador.
Um destino adequado para essas águas descartadas da hidroponia seria o cultivo controlado de microalgas. Essa atividade pode minimizar o problema da contaminação dos corpos d’água pelo rejeito do processo de hidroponia pois ela aproveita os nutrientes descartados. Esse foi o foco da pesquisa do químico, Fabiano Cleber Bertoldi, da Universidade Federal de Santa Catarina. Segundo Bertolti, a utilização dessa água residual no cultivo de microalgas minimiza e evita a eutrofização dos corpos d’água. A eutrofização é um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, ocasionado por efluentes agrícolas, urbanos ou industriais num corpo d’água, que leva a proliferação excessiva de algas. Quando as algas se decompõe, consomem o oxigênio da água, provocando a morte de peixes e de outros animais aquáticos. Além de deixar o corpo d’água pobre em oxigênio, algumas espécies de algas produzem toxinas que contaminam fontes de água potável. “Entretanto, vê-se a necessidade de maiores estudos sobre a potencialidade de microalgas no tratamento de resíduos hidropônicos, possibilitando a utilização da biomassa algal numa ampla ordem de compostos”, diz Bertoldi.
Ainda segundo o pesquisador, as microalgas, que são comercializadas como fonte alternativa de proteína, podem também produzir até 30 vezes mais óleo do que a soja por unidade de área. Nos últimos anos, aproximadamente 75% da produção anual de biomassa microalgal foi direcionada para a fabricação de suplementos alimentares. Vários alimentos à base de extratos algais vêm sendo lançados no mercado de alimentos funcionais como: bebida à base de Chlorella e cápsulas de óleo enriquecido com carotenóides extraídos da biomassa da microalga Dunaliella.
Quanto ao seu cultivo, as microalgas apresentam vantagens sobre outras culturas, como tempo de geração curto. Elas são produzidas de forma contínua, ocupando áreas pequenas. Além disso, não estão sujeitas às variações ambientais, são facilmente controladas, não afetam drasticamente o meio ambiente (pois não precisam de aplicação de defensivos agrícolas) e apresentam uma multiplicação alta em pouco intervalo de tempo.
Outra vantagem apontada por Bertoldi na utilização da solução hidropônica residual no cultivo de microalgas é que, por ser rica em nutrientes, proporciona uma redução nos custos de produção, uma vez que, os nutrientes utilizados no processo representam aproximadamente 40% dos custos totais.
Os resultados da pesquisa de Bertoldi apontam para a viabilidade do uso da água residual de hidroponia para o cultivo da microalga Chorella vulgaris e parte de seu trabalho foi publicado recentemente em um artigo da revista Ciência Rural.