No início de janeiro dois relatórios foram divulgados: um pelo International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA), financiado pela indústria; e outro pela organização não-governamental Amigos da Terra Internacional. O primeiro ressalta o rápido avanço da adoção da tecnologia, sobretudo por pequenos produtores de países em desenvolvimento, o que serviria como “testemunha da confiança de milhões de pequenos e grandes produtores na biotecnologia”. Já o segundo conclui que “nenhum OGM no mercado hoje oferece benefícios para o consumidor em termos de qualidade ou preço, e até hoje esses cultivos não fizeram nada para aliviar a fome ou a pobreza na África ou em qualquer outro lugar”.
De acordo com o ISAAA, 10,3 milhões de agricultores plantaram uma área total de 102 milhões de hectares de transgênicos em 2006, crescimento de 13% frente a 2005. As altas taxas de adoção dos OGMs “refletem a satisfação dos agricultores com produtos que oferecem substanciais benefícios, incluindo o manejo mais flexível da cultura, menores custos de produção, maior produtividade e/ou lucro líquido por hectare, benefícios para a saúde e sociais, e ainda um ambiente mais limpo através do menor uso de pesticidas convencionais, o que em conjunto contribui para uma agricultura mais sustentável”, avalia a instituição. A continuidade da rápida adoção de culturas biotecnológicas refletiria melhorias substanciais e consistentes para pequenos e grandes produtores, consumidores e a sociedade, tanto de países industrializados como em desenvolvimento, garante o relatório Global Status of Commercialized Biotech/GM Crops: 2006,lançado no dia 18 de janeiro.
Cerca de 40% do cultivo de OGM estaria nos países em desenvolvimento, os quais teriam registrado maior aumento em área plantada (21%), em comparação com os países industrializados (9%). Dos 10,3 milhões de agricultores que adotaram a tecnologia, 90% (9,3 milhões) seriam pequenos e de poucos recursos, vivendo nos países em desenvolvimento. Para eles, que cultivam principalmente algodão geneticamente modificado, o aumento de renda proporcionado pela biotecnologia teria contribuído para aliviar a pobreza.
Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá, Índia e China são os países que mais cultivam OGM, de uma lista de 22 países (metade industrializados e metade em desenvolvimento), segundo o ISAAA. Nos EUA, a taxa de adoção é de mais de 80% entre os produtores de algodão e soja. O Brasil aparece em terceiro lugar no ranking, com uma área de 11,5 milhões de hectares plantados com soja e algodão geneticamente modificados. Em todo o mundo, as culturas transgênicas mais comuns são soja, milho e algodão – um mercado de mais de US$ 6,8 bilhões.
O relatório do ISAAA cita ainda uma pesquisa que estima que, entre 1996 e 2005, os benefícios econômicos líquidos globais dos cultivos transgênicos para os produtores foram de US$ 27 bilhões (US$ 13 bilhões para os países em desenvolvimento e US$ 14 bilhões para os industrializados). No mesmo período, a redução acumulada no uso de pesticidas foi calculada em 224.300 toneladas métricas de ingrediente ativo, equivalente a uma diminuição de 15% no impacto ambiental associado ao uso de pesticidas naquelas culturas. O ISAAA projeta que até 2015, a área plantada com OGM crescerá para 200 milhões de hectares, com pelo menos 20 milhões de agricultores adotando a tecnologia em mais de 40 países.
A entidade Amigos da Terra Internacional também divulgou um relatório no dia 9 de janeiro de 2007, Who Benefits from GM crops? An analysis of the global performance of genetically modified crops 1996-2006. A entidade discorda das vantagens propagadas na publicação anual financiada pela indústria de biotecnologia. Na avaliação da ONG a disseminação das culturas geneticamente modificadas em 2006 mostrou sinais de estagnação. “A produção de OGMs em larga escala continuou limitada a poucas culturas e países e não resolveu os principais problemas e desafios enfrentados pelos agricultores. As culturas transgênicas também não provaram serem superiores às convencionais”, informa, ressaltando que em geral os transgênicos comercializados hoje aumentam – e não diminuem – o uso de pesticidas. Uma prática que nem de longe beneficia o meio ambiente. “Os cultivos transgênicos se tornarão unsustentáveis no médio e longo prazo”, projeta.
Para a entidade, mais de 70% dos cultivos transgênicos em larga escala estão limitados a dois países (Estados Unidos e Argentina). A crítica recai também sobre o fato de apenas quatro culturas (milho, algodão, soja e canola) com duas características (tolerância a herbicidas e resistência a insetos) serem amplamente plantadas nos EUA, embora 71 eventos distintos já tenham sido aprovados para uso comercial no país. “Mais de quatro em cada cinco hectares de cultivos GM são feitos para suportar a aplicação de herbicidas vendidos pelas mesmas empresas que comercializam as sementes transgênicas”, destaca.
A Amigos da Terra cita estudos de pesquisadores independentes que demonstram que variedades geneticamente modificadas apresentam produtividade inferior ou, no máximo, equivalente à das variedades convencionais. Menciona também uma pesquisa da União Européia, realizada em 2006, que confirma a oposição do público aos alimentos GM.