Um dos grandes desafios dos museus de ciência tem sido conseguir verba para as despesas cotidianas. Além do aporte proporcionado pelos financiamentos públicos, que já estao a caminho, a solução apontada é seguir os modelos europeu e norte americano, em que diferente do Brasil, os recursos privados para financiamento de museus não são muito inferiores aos públicos. No entanto, essa é uma opção a ser vista com cautela para que as exposições e os museus não percam seu sentido original e transformem-se em “uma feira de marcas comerciais”.
O quadro atual é de uma crise que os investimentos públicos estão procurando sanar. “Os políticos e empresários gostam de inaugurar coisas. O difícil é conseguir recursos para custeio”, afirma José Ribamar Ferreira, do Museu da Vida da Fiocruz. Marcelo Knobel, ex-diretor do museu da Unicamp, lembra que grandes museus do mundo todo estão passando por crises.
Hoje no Brasil, a criação e expansão de centros e museus de ciência depende, em grande parte, de verbas públicas. As fundações estaduais de amparo à pesquisa figuram entre as principais fontes de financiamento desses espaços de divulgação científica. Algumas delas estão com editais de popularização da ciência abertos. É o caso da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que até o próximo dia 25 recebe projetos que pleiteiem parte do R$ 1,64 milhão destinado ao Programa de Pesquisa em Centros de Ciências do Estado de São Paulo.
Já o edital de Apoio à Difusão e Popularização de Ciência e Tecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) continua aberto até o dia quatro de agosto e dispõe de R$ 2 milhões. O mesmo montante foi alocado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para o edital do Programa de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia – 2008, que já está encerrado e deve apresentar as propostas vencedoras no dia sete de agosto.
Em nível federal, o edital de Apoio à Projetos de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia, aberto no final de 2007 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), recebeu 1232 propostas, das quais 58 foram contempladas com parte dos R$ 7 milhões destinados. “Praticamente todos os museus de ciência apresentaram algum projeto. O recurso é evidentemente muito pequeno em relação à demanda”, enfatiza Ildeu de Castro Moreira, diretor do departamento de difusão e popularização da ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Desde 2003, o MCT tem assumido compromissos financeiros de curto e médio prazo com museus de ciência brasileiros. Entre 2004 e 2007, o investimento total superou os US$ 22 milhões. Pelo Plano de Ação de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Nacional 2007 – 2010, apresentado no final de 2007, outros R$ 95,2 milhões serão investidos nos próximos anos. Tais recursos são distribuídos não só por meio das fundações de amparo à pesquisa, mas também do CNPq e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Outras possibilidades
Além dessas agências, outros financiadores são apontados como possibilidades importantes. Mário Donizeti Domingos, acredita que as prefeituras vão tomar a dianteira dessas iniciativas. Ele é coordenador do Sabina – Escola Parque do Conhecimento, inaugurado no inicio de 2007 pela Secretaria de Educação e Formação Profissional de Santo André. O museu recebeu, apenas naquele ano, R$ 36 milhões.
Antônio Carlos Pavão, presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC) e diretor do Espaço Ciência, em Pernambuco acrescenta que é importante buscar consórcios não só com o poder municipal, mas também estadual e federal para evitar a descontinuidade dos projetos. Para ele, o Ministério da Educação (MEC) também deveria investir nos museus, dada a importância desses espaços para a melhoria do ensino de ciências.
Para Moreira, outra fonte que precisa ser mais explorada são as emendas parlamentares e de bancadas, como já tem acontecido no caso do Museu de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). “Desde a nossa reabertura, em outubro de 2006, temos a parceria constante da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Recebemos também o aporte financeiro através de emenda parlamentar de alguns deputados baianos”, lembra Adriana Cunha, diretora do museu.
Investimento privado
No Brasil, os recursos privados para financiamento de museus de ciência são muito inferiores aos públicos. “O ministério está buscando mais recursos e quer que a iniciativa privada também participe, como acontece na Europa e nos Estados Unidos. Os recursos exigidos são altos e o governo sozinho não tem fôlego suficiente”, pontua Moreira. De 1985 a 2006, quando encerrou suas atividades, a Fundação Vitae foi a grande aliada do MCT, tendo injetado quase US$ 18 milhões em museus e centros de ciência. “Com a saída da Vitae, criou-se um vácuo. A demanda é muito grande”, lamenta Pavão.
Marcelo Firer, diretor do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp sinaliza que uma das questões enfrentadas pelos museus é, por um lado, a dificuldade para obter financiamento para a divulgação científica como uma atividade em si, por vezes, desvinculada da pesquisa, e, por outro lado, não ser reconhecida como atividade cultural. Por isso, pouc__os projetos de divulgação das ciências têm conseguido se beneficiar de incentivos fiscais às empresas financiadoras, o que estimularia o investimento privado. “É preciso a inclusão do setor na Lei Rouanet ou a implementação de legislação de incentivo específica, em moldes semelhantes”, salienta Pedro Persechini, presidente do Espaço Ciência Viva. “Um museu de ciências não é uma instituição de produção de conhecimento científico, mas sim uma instituição cultural, no sentido pleno da palavra”, reflete Firer.
Ainda assim, os museus têm apostado em parcerias com as empresas. “Desde 2006, quando criamos uma área voltada para a formatação e captação de recursos, tivemos um crescente aumento no número de patrocinadores privados”, revela Pedro Paulo Soares, coordenador do Museu da Vida da Fiocruz.
“Mas esses são caminhos que precisam ser percorridos com muita cautela”, pondera Roseli de Deus Lopes, diretora da Estação Ciência. “Temos de tomar cuidado para que a nossa exposição não acabe se tornando uma feira de marcas comerciais”, completa Emilio Jeckel Neto, diretor do Museu de Ciências e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul.