Novas variedades de cana melhoram produção de açúcar e álcool

O programa de Melhoramento Genético de Cana de Açúcar, desenvolvido pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos, lançou no dia 20 de março quatro novas espécies de cana-de-açúcar ricas em sacarose e que beneficiam a produção de álcool.

O programa de Melhoramento Genético de Cana de Açúcar, desenvolvido pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lançou no dia 20 de março quatro novas espécies de cana-de-açúcar da variedade RB (República do Brasil). As variedades destacam-se pelo alto teor de sacarose, entre outras características que beneficiam a produção de álcool.

O desenvolvimento de novas variedades é, segundo Marcos Vieira, coordenador do projeto, fundamental para dar sustentação à produção de açúcar e álcool, pois é pelas novas características obtidas na matéria prima que o sistema produtivo mantém-se competitivo. “Sem o desenvolvimento de novas variedades, com o tempo, a cana é infectada por alguma doença ou praga e definha, sem manter a produtividade”, explica.

A pesquisa foi apoiada pela Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa), que integra além da Ufscar, outras seis universidades federais, e por 130 empresas do setor conveniadas. Desde a sua constituição, a Ridesa disponibilizou 61 variedades de cana-de-açúcar RB, sendo que a UFSCar lançou 15 delas, além das quatro novas. Atualmente, 63% da área canavieira do Brasil é cultivada com variedades RB.

As quatro novas variedades demoraram dez anos para serem desenvolvidas. Dentre as principais características, a RB 925211 destaca-se pela maturação precoce com alto teor de sacarose, alta produtividade e resistência às principais doenças da cana-de-açúcar, como a mosaico de cana, carvão e ferrugem. Já a RB 925268 se destaca como material promissor para colheita mecanizada, porque tem canas eretas e sem florescimento. A variedade RB 925345 apresenta alto teor de sacarose, alta produtividade, alto teor de fibra para início da safra, além de um desenvolvimento rápido. E a RB 935744 tem maturação tardia e destaca-se como material de altíssima produção agrícola e ausência de florescimento.

Vieira explica que as variedades foram desenvolvidas a partir do sistema de hibridação natural, através de cruzamentos planejados de três tipos: “nos Biparentais, são conhecidos os genitores femininos e masculinos; na Polinização Múltipla Especial, são conhecidos os genitores femininos e seleciona-se 5 a 7 masculinos; e finalmente, na Polinização Livre, só se conhece os genitores femininos”, explica. “Cada semente produzida representa potencialmente uma nova variedade de cana-de-açúcar”, completa.

A novidade já está sendo cultivada comercialmente, o que, segundo Vieira, reflete a expectativa das empresas quanto aos benefícios das novas variedades. “São incalculáveis, pois o Brasil produz 400 milhões de toneladas de cana por ano, sendo o primeiro produtor mundial”, afirma. O peso dos números não para por aí, pois a cultura da cana-de-açúcar abrange aproximadamente 6 milhões de hectares no Brasil e o setor contribui com um milhão de empregos diretos e 2,6 milhões indiretos. O agronegócio sulcroalcooleiro, que envolve basicamente a utilização da cana-de-açúcar para a produção de açúcar e álcool, movimenta, somente no estado de São Paulo, algo em torno de R$ 20 bilhões, representando 35% do PIB agrícola paulista e 8% do PIB nacional.

A produção do álcool combustível figura como principal alternativa brasileira para os derivados de petróleo. E mesmo com os 16 bilhões de litros de álcool produzidos ao ano, o período é de aumento no preço do combustível, que já acumula alta de 23,5% no ano. De acordo com levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio do litro subiu 5,42% somente na última semana.