Medicamento para diminuir risco de parto prematuro causa efeito oposto

O medicamento metronizadole foi testado na Inglaterra em 900 gestantes e provocou parto precoce em 62% delas, o que levou os cientistas a interromperem o estudo antes do final. Ele é utilizado para tratar infecções femininas e no Brasil o uso está de acordo com os padrões da Anvisa.

Estudo realizado com 900 gestantes na Inglaterra foi interrompido antes do previsto. O antibiótico testado para diminuir a possibilidade de parto prematuro antecipou o nascimento dos bebês. De acordo com Marcelo Nomura, do departamento de Tocoginecologia da Unicamp, o metronizadol – como é vendido no Brasil – é muito utilizado e não e necessário alarde. Isso porque as mulheres que participaram do estudo tinham um perfil específico, ou seja, corriam risco de parto precoce e estavam entre a 24a e 27a semana de gestação.

A pesquisa da ONG britânica Tommy, que se dedica a recém-nascidos, tratou parte das pacientes com o metronizadole por uma semana e a outra com comprimidos de placebo. Enquanto no segundo grupo 39% deram a luz antes da hora, no primeiro o número de partos precoces foi de 62%, o que assustou os cientistas a ponto de interromperem a análise. Trata-se de um medicamento recomendado para tratar a vaginose bacteriana, que está presente em 20% das gestantes e pode levar a complicações na gravidez .

Venda no país

No Brasil, o Metronidazol é comercializado por laboratórios e na forma de genéricos. Nas bulas não há indicação terapêutica de que ele evita o parto prematuro, conforme os veículos de comunicação reproduziram na semana em que o estudo foi publicado.

Indicado para giardíase, amebíase, tricomoníase, vaginites e outras infeccções genitais femininas que podem prejudicar o ritmo da gravidez e antecipar o parto, o remédio pode ser considerado um mecanismo que evita o parto prematuro de forma indireta, por combater infecções vaginais que possam prejudicar o feto. Em algumas mulheres as vaginoses surgem e desaparem, por vezes, sem que a paciente note. Nas grávidas, porém, sem o tratamento os microrganismos no colo do útero podem penetrar na bolsa amniótica e rompê-la – principal fator de parto prematuro. A própria resposta do organismo à infecção também pode gerar partos precoces.

A Anvisa informou que a pesquisa inglesa, publicada no início do ano na revista especializada International Journal of Obstetrics and Gynaecology (vol. 113), não gera mudanças na orientação quanto ao uso do medicamento, uma vez que só é vendido com receita médica e na bula é informado que suas reações sobre o feto não são totalmente conhecidas.

Sem alarde Nomura, da Unicamp, reforça que o metronizadol é muito utilizado e as mulheres não precisam se preocupar, uma vez que a população do estudo incluía mulheres com risco de parto prematuro, com histórico de parto prematuro ou problemas no colo do útero e que apresentaram exame positivo de fibronectina fetal – proteína presente na placenta, que promove a implantação do óvulo fecundado no útero. Ao final da gestação, a fibronectina perde suas propriedades aderentes, permitindo o descolamento da placenta e das membranas amnióticas, que envolvem o feto. A presença dessa proteína na secreção vaginal é sinal de que o parto está prestes a acontecer, o que ajudou os especialistas da pesquisa inglesa a delimitarem a amostra. “O remédio continuará sendo utilizado, porque é eficaz. Do jeito que a imprensa divulgou, pode alarmar as consumidoras sem necessidade”, conclui.