“Ao anunciar a possibilidade de produção de um livro, para circular, principalmente, nas aldeias, ouvimos a disposição dos Guarani para produzí-lo. A obra poderia ser bilíngüe. Entretanto, como era a primeira, os Guarani acharam que ele deveria ser todo na língua guarani”, lembra Maria Aparecida Bergamaschi, professora da Faculdade de Educação da UFRGS e uma das coordenadoras do projeto, iniciado em novembro de 2003.
O objetivo principal do livro foi reunir professores indígenas e lideranças tradicionais das aldeias guarani para que, juntos, fizessem uma reflexão sobre a escola e a educação indígena. A obra faz parte do projeto de extensão intitulado “Educação Escolar Guarani e Kaingang: Formação de Professores e Produção de Material Didático-Pedagógico” da UFRGS.
Segundo Bergamaschi, o projeto é inovador: se a escola está nas aldeias ensinando a escrever, é necessário que circulem textos também na língua guarani. “O livro tem um grande significado, de afirmação e valorização de uma língua que resistiu a cinco séculos de colonização e se mostra vigorosa nas aldeias guarani. É um livro escrito pelos Guarani para os Guarani”, enfatiza a pesquisadora.
Seis aldeias atuaram ativamente no projeto: Tekoá Anhetenguá (Lomba do Pinheiro, município de Porto Alegre); Tekoá Pindó Miri, Tekoá Nhundy e Tekoá Jataíty (Itapuã, Estiva e Cantagalo, respectivamente, todas no município de Viamão); Tekoá Porã (município de Barra do Ribeiro) e Tekoá Guapoi Porã (município de Torres). Na UFRGS, houve a participação da Faculdade de Educação, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e do Instituto de Letras. Foram impressos mil exemplares, financiados pela Secretaria Estadual da Educação e distribuídos para todas as aldeias guarani do estado, mesmo as que não possuem escola. Há ainda exemplares nas bibliotecas da UFRGS e da Secretaria da Educação. “Estamos iniciando uma segunda edição do projeto. Ampliamos o número de aldeias participantes do projeto, e os Guarani, agora, querem escrever mais um livro, o que mostra a importância e o valor atribuído por eles à primeira obra”, afirma Bergamaschi.
Povo Guarani
Os índios guarani vivem na Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil onde, além do Rio Grande do Sul, estão presentes nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), estima-se que existam, ao todo, 34 mil índios guarani no Brasil.