O grande dilema dos detentores de conhecimento é decidir entre compartilhar e proteger o que sabem. Enquanto o compartilhamento é capaz de gerar uma rede sinérgica de soluções, a proteção evita a apropriação e o uso indiscriminado do conhecimento por concorrentes. Nesse contexto, a gestão do conhecimento revela-se uma prática extremamente valiosa e nada trivial. “Sua complexidade reside na contradição de gerir ou controlar um processo que, por natureza, precisa de liberdade para existir, sob o risco de perder sua dimensão criativa”, afirmou Gilson Schwartz, professor de Economia da Informação da USP, no evento “Manhãs de Inovação”, promovido pelo Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA) no último dia 27.
Schwartz fez uma retrospectiva do processo de discussão da política industrial no Brasil e da reconfiguração do Sistema Nacional de Inovação estabelecida desde o final do governo de Fernando Henrique Cardoso, destacando a enorme quantidade de editais atualmente encaminhados para a solicitação de recursos governamentais para projetos relacionados à Ciência, Tecnologia e Inovação. “Foi uma grande conquista”, diz Schwartz, “mas a cultura das organizações, sejam privadas ou públicas, ainda é bastante contraditória e falha em muitos aspectos”.
Essa contradição aparece, por exemplo, no sistema de apresentação de propostas da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). O sistema exige a obtenção dos formulários por meio de computadores que operam com Windows, apesar da opção do governo Lula pelo uso de softwares livres desde 2003. Assim, os projetos elaborados pela equipe do professor, que optou pelo uso de softwares livres, precisam utilizar o sistema operacional proprietário Windows para terem acesso ao Formulário de Apresentação de Propostas (FAP) da Finep.
Para a criação da Cidade do Conhecimento – um programa da USP que promove a criação, a incubação e o desenvolvimento de projetos por meio de redes digitais colaborativas – Schwartz teve de enfrentar a burocracia que, segundo ele, acaba sendo um grande entrave à realização de projetos. “Os projetos existem, mas, enquanto o sistema cobra produtividade dos pesquisadores, a estrutura tolhe essa produtividade”, lamenta. A plataforma de currículos Lattes, bastante utilizada pelos pesquisadores do país, também apresenta deficiências que desestimulam os profissionais. A produção dos músicos, de acordo com o especialista, é muito mal avaliada: “trabalhos de meses são tomados como produções pontuais pelo sistema, o que não é justo”.
No mesmo evento, foram também apresentados dois casos de sucesso em gestão do conhecimento: o caso da empresa química Buckman, apresentado pelo gerente da divisão de Especialidades Laerte Carvalho, e o caso do Centro de Tecnologia Canavieira, exposto por Rogerio Salles Loureiro. Ambos salientaram que o conhecimento deve ser visto como um ativo valioso dentro da nova economia e que suas instituições utilizam a gestão do conhecimento para acelerar o alcance de suas metas e objetivos estratégicos. Apenas as tecnologias da informação não são suficientes para garantir o diferencial competitivo pretendido pelas empresas, que passam a dar mais atenção à ’economia do conhecimento’ e aos espaços necessários para efetivar as trocas econômicas e sociais como forma de gerar melhores oportunidades de negócios inovadores. “A gestão do conhecimento abrange práticas que visam evitar a multiplicação inútil de esforços e promover o compartilhamento do conhecimento dentro da empresa”, diz Loureiro. “Mas cada insituição tem suas especificidades e para cada tipo de problema há um tipo de solução”, completa.
Mais difícil do que implantar a gestão do conhecimento nas organizações é pensar sua responsabilidade social estratégica, questão que foi entendida pelos palestrantes como fundamental. “Não adianta uma empresa ter excelência na gestão do conhecimento e achar que isso basta. O contexto social desfavorável imporá limites à sua expansão e por isso deve ser preocupação de todos”, lembra Schwartz.